sábado, 30 de maio de 2009

O som em 3 canais mais o surround dos filmes em CinemaScope. (canal esquerdo, direito e surround magnéticos e o canal central com som ótico). Isso existiu?
Sim, mas só nos grandes cinemas, como os cines Avenida e Vitória e talvez mais alguns. O restante era só com som elétro-ótico de baixa fidelidade. E todos eles com tela grande, e com instalações inadequadas. Como por exemplo, erro no ângulo de inclinação do projetor para com o ângulo de inclinação da tela no sentido vertical, praticamente todas ficavam aprumada a 90° formando um ângulo reto. E o projetor sempre instalado obrigatoriamente em uma posição inclinada, ocasionando uma projeção fora de foco, alguns na parte superior, outros na parte inferior da tela, dependendo do ajuste de foco dado. Outro erro grave, todas as telas eram presas em estruturas retas no sentido horizontal, sem curvatura para corrigir o problema inerente às lentes anamórficas, que é a deformação da imagem nas extremidades da tela. Sendo que Miro desconhecia muitos pormenores do Cinemascope, como por exemplo, a necessidade da curvatura da tela e do paralelismo entre projetor e tela. Lembro um bate papo entre nós dois sobre a curvatura das telas. Eu contei a ele que em 1954 fui a São Paulo e fui ao Cine República, e assisti o “Príncipe Valente”, com Robert Wagner e Vivian Ligh um dos primeiros filmes do ator. E um dos primeiros do Brasil a projetar filmes em Cinemascope e que a sua tela era curva no sentido horizontal. E inclinada no sentido vertical formando um ângulo reto com o projetor, fatos que ele não deu a mínima importância. Sobre a inclinação da tela, creio que ele não quis dar o braço a torcer; e quanto à curvatura da mesma, ele se saiu com essa ideia. Que para isso seria necessário criar uma janela de obturador especial; (Que consiste numa peça com uma abertura do tamanho do quadro do filme por onde incide a luz que é refletida pelo espelho e concentrada pelas lentes condensadoras, e munida de dobradiça para permitir o posicionamento do filme, para finalmente a luz projetada alcançar às objetivas do projetor.) Com o mesmo grau da curvatura da tela, provando as minhas afirmações acima. Graças à internet, hoje tudo sobre a tecnologia já superada do cinemascope pode ser acessada.
E ele sempre reclamava da projeção fora de foco nas extremidades, o mesmo com o foco errado na parte superior da tela, sendo que os operadores da época usavam os letreiros na parte inferior, como referencia para dar o foco ideal, senão os letreiros ficavam elegíveis.
Como foram realizadas as adaptações das lentes anamórficas?
Que eram duas caixas retangulares estampadas em aço, medindo cerca de: 0,18m X 0,18m X 0,35m de comprimento, pintadas na cor cinza martelado. Eram produzidas nos EUA, da marca Bausch-Lomb. E que já vinham com 4 furos com rosca para possibilitar a colocação de 4 hastes cilíndrica cromadas de cerca de 0,30m de comprimento cada. No lado que ficava defronte as objetivas já existentes nos projetores.
Sendo as duas superiores dotadas de um engate rápido manual, e eram engatadas em 2 parafusos com cabeça sextavada que foram rosqueados na parte frontal dos projetores e acima das objetivas. As duas hastes inferiores eram providas de cabeças sextavadas e só ficavam encostadas na carcaça dos projetores. Bastaram realizar 4 furos e passar a tarraxa para se fazerem as roscas, e fixar as objetivas, o que deu trabalho foi posicionar os furos, pois foram posicionados na base do erro e acerto, mas felizmente foram acertados de primeira. Palpite é que não faltou. Ironias do destino: as lanternas velhas só utilizavam eletrodos novinhos em folha, as lanternas novas queimaram durante muito tempo àqueles tocos que estavam guardados nas caixas debaixo da bancada. E como eram econômicas as novas lanternas, consumiam muito lentamente os tocos, e produziam uma iluminação com maior intensidade tornando a projeção mais viva, e avançavam automaticamente, sendo que só muito esporadicamente era necessário um leve retoque na manopla de um dos eletrodos. O que infelizmente provocou a demissão de um dos operadores. Pois com a atualização dos projetores, foram adaptados trilhos na parede na direção das janelas espias e colocados nestes trilhos um sistema de portinhola corrediça. Quando se abria para o projetor 1, fechava o projetor 2, o comando era dado por um tubo metálico do tipo conduíte rígido no sentido do comprimento da parede, que interligava as duas portinholas.
Com o novo sistema, nunca mais aconteceram barbeiragens do tipo estar os dois projetores projetando simultaneamente. E que era motivo de vaias e apupos da plateia. Outro motivo de vaias era quando o filme projetado era velho e muito remendado e por esse motivo a imagem saia do enquadramento correto, geralmente encobrindo o letreiro com a tradução do texto do filme. Sendo que esta atualização foi executada pelo técnico João Caputo, que era um funcionário antigo do Cine Ópera, tendo começado como Operador e que chegou a ser um tipo de curinga. Durante uma boa temporada foi o gerente do Cine Guarani, uma ocasião, era um domingo, havia 2 sessões de matinê e 1 sessão noturna, começou um problema no som no meio da 1ª sessão da matinê, e foi se intensificando. O que ocorria era que o som do projetor 1 saia recortado, consegui diagnosticar que o defeito estava entre a unidade leitora e o pré-amplificador, pois invertendo o sinal nos amplificadores, o som continuava saindo recortado, poderia ser um defeito na unidade leitora ou no pré-amplificador, poderia ter invertido as válvulas excitadoras dos pré-amplificadores, que teria matado a charada, mas por inexperiência não ousei efetuar a troca.
Chamado o João, ele chegou antes do inicio da sessão das 20:00 horas, ele só perguntou em qual dos projetores era o problema, foi direto na dita cuja válvula, tirou do soquete e jogou no chão com força, voou cacos de vidro para tudo quanto era lado, pediu a caixa de válvulas sobressalentes, pegou uma 12AX7 novinha e encaixou no soquete e pediu para que a sessão começasse com aquele projetor e desceu para bater papo. Iniciada a sessão, com o som perfeito de sempre. Os anos de experiência, nessa hora fez a diferença!
Estava no ponto final do ônibus, na Praça Rui Barbosa, lá pelas 12:30min horas, voltando para casa após uma manhã em sala de aula. Quando parou em frente ao ponto um Chevrolet 1937 preto, quatro portas. E o motorista fez sinal para mim. Vamos, estou indo para o Portão, era Ismail Macedo, um dos sócios proprietários do Cine Guarani. Sentei no banco da frente, e mais três pessoas sentaram no banco de traz, o Ismail que eu conhecia, sempre de terno e gravata e era de cumprimentar só mexendo a cabeça, sempre com a cara fechada, mas era só tipo. Quando conversava descontraído era outra pessoa. No meio da conversa perguntou para mim se o Sauro era meu tio. Respondi que era tio e padrinho, aí eu perguntei de onde ele conhecia o Sauro, e ele contou das sessões de cinema que eram realizadas na casa de minha avó, ele lembrava de vários tios e tias inclusive de minha mãe. Era um dos amigos de infância que não perdia as matinês do Sauro. Mundo pequeno, não?
Ocasionalmente vinham cópias de filmes com mal estado de conservação o que obrigava aos operadores efetuarem uma revisão minuciosa. E que consistia em bobinar e rebobinar todas as partes do filme, para isso, ficava-se com a mão direita manivelando e com os dedos da mão esquerda sentindo o estado físico dos orifícios laterais, do filme. Caso os mesmos apresentassem falhas, parava a manivela, retirava-se o pedaço do filme estragado, fazia-se uma emenda caprichada e dava continuidade ao rê-bobinado. Chegando ao final do rolo, fazia a inversão dos rolos e rê-enrolava. O operador Ivan Taborda é que geralmente fazia essas revisões, no período da manhã. Ele vinha de bicicleta, e trajando invariavelmente bombachas e um chapéu de feltro preto típico de gaúcho. Era bem gozado, um gaúcho dando uma panca e  o pingo era uma bicicleta.
O domingo em que Cauby Peixoto veio cantar no Cine Guarani! Com lotação esgotada, Cauby foi recepcionado pelas fãs que ofereceram diversos buquês de rosas. Cantou cerca de vinte canções sendo a maioria do seu repertório de sucessos com música em play-back.
Com o advento da televisão em Curitiba as empresas exibidoras começaram a sentir a ausência dos frequentadores, uma das saídas foi a realização de concursos, o primeiro foi marcante, a juventude frequentadora retornou em peso as sessões, só se falava no concurso, que consistia para cada ingresso um cupom onde constavam três nomes de filme de sucesso e que ainda não tinha sido apresentado, e que em uma data predeterminada seriam sorteados sete cupons com a resposta correta e que dariam direito a um ingresso permanente com uma validade de 12 meses. Sendo que na sala de espera foi montado um grande cartaz triplo com fotos dos três filmes, e embaixo ficavam as três grandes latas redondas própria para transporte de filmes, devidamente lacradas. Ninguém conseguiu explicar o motivo dos lacres. Eu desconfiava que as latas estivessem sem os filmes, mas sim com algo pesado para dar a impressão de que os filmes lá estivessem. Os meus amigos achavam que eu sabia qual o era o filme que seria exibido, mas estavam enganados.

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