sábado, 30 de maio de 2009

Layout Cine Guarani internamente



O som em 3 canais mais o surround dos filmes em CinemaScope. (canal esquerdo, direito e surround magnéticos e o canal central com som ótico). Isso existiu?
Sim, mas só nos grandes cinemas, como os cines Avenida e Vitória e talvez mais alguns. O restante era só com som elétro-ótico de baixa fidelidade. E todos eles com tela grande, e com instalações inadequadas. Como por exemplo, erro no ângulo de inclinação do projetor para com o ângulo de inclinação da tela no sentido vertical, praticamente todas ficavam aprumada a 90° formando um ângulo reto. E o projetor sempre instalado obrigatoriamente em uma posição inclinada, ocasionando uma projeção fora de foco, alguns na parte superior, outros na parte inferior da tela, dependendo do ajuste de foco dado. Outro erro grave, todas as telas eram presas em estruturas retas no sentido horizontal, sem curvatura para corrigir o problema inerente às lentes anamórficas, que é a deformação da imagem nas extremidades da tela. Sendo que Miro desconhecia muitos pormenores do Cinemascope, como por exemplo, a necessidade da curvatura da tela e do paralelismo entre projetor e tela. Lembro um bate papo entre nós dois sobre a curvatura das telas. Eu contei a ele que em 1954 fui a São Paulo e fui ao Cine República, e assisti o “Príncipe Valente”, com Robert Wagner e Vivian Ligh um dos primeiros filmes do ator. E um dos primeiros do Brasil a projetar filmes em Cinemascope e que a sua tela era curva no sentido horizontal. E inclinada no sentido vertical formando um ângulo reto com o projetor, fatos que ele não deu a mínima importância. Sobre a inclinação da tela, creio que ele não quis dar o braço a torcer; e quanto à curvatura da mesma, ele se saiu com essa ideia. Que para isso seria necessário criar uma janela de obturador especial; (Que consiste numa peça com uma abertura do tamanho do quadro do filme por onde incide a luz que é refletida pelo espelho e concentrada pelas lentes condensadoras, e munida de dobradiça para permitir o posicionamento do filme, para finalmente a luz projetada alcançar às objetivas do projetor.) Com o mesmo grau da curvatura da tela, provando as minhas afirmações acima. Graças à internet, hoje tudo sobre a tecnologia já superada do cinemascope pode ser acessada.
E ele sempre reclamava da projeção fora de foco nas extremidades, o mesmo com o foco errado na parte superior da tela, sendo que os operadores da época usavam os letreiros na parte inferior, como referencia para dar o foco ideal, senão os letreiros ficavam elegíveis.
Como foram realizadas as adaptações das lentes anamórficas?
Que eram duas caixas retangulares estampadas em aço, medindo cerca de: 0,18m X 0,18m X 0,35m de comprimento, pintadas na cor cinza martelado. Eram produzidas nos EUA, da marca Bausch-Lomb. E que já vinham com 4 furos com rosca para possibilitar a colocação de 4 hastes cilíndrica cromadas de cerca de 0,30m de comprimento cada. No lado que ficava defronte as objetivas já existentes nos projetores.
Sendo as duas superiores dotadas de um engate rápido manual, e eram engatadas em 2 parafusos com cabeça sextavada que foram rosqueados na parte frontal dos projetores e acima das objetivas. As duas hastes inferiores eram providas de cabeças sextavadas e só ficavam encostadas na carcaça dos projetores. Bastaram realizar 4 furos e passar a tarraxa para se fazerem as roscas, e fixar as objetivas, o que deu trabalho foi posicionar os furos, pois foram posicionados na base do erro e acerto, mas felizmente foram acertados de primeira. Palpite é que não faltou. Ironias do destino: as lanternas velhas só utilizavam eletrodos novinhos em folha, as lanternas novas queimaram durante muito tempo àqueles tocos que estavam guardados nas caixas debaixo da bancada. E como eram econômicas as novas lanternas, consumiam muito lentamente os tocos, e produziam uma iluminação com maior intensidade tornando a projeção mais viva, e avançavam automaticamente, sendo que só muito esporadicamente era necessário um leve retoque na manopla de um dos eletrodos. O que infelizmente provocou a demissão de um dos operadores. Pois com a atualização dos projetores, foram adaptados trilhos na parede na direção das janelas espias e colocados nestes trilhos um sistema de portinhola corrediça. Quando se abria para o projetor 1, fechava o projetor 2, o comando era dado por um tubo metálico do tipo conduíte rígido no sentido do comprimento da parede, que interligava as duas portinholas.
Com o novo sistema, nunca mais aconteceram barbeiragens do tipo estar os dois projetores projetando simultaneamente. E que era motivo de vaias e apupos da plateia. Outro motivo de vaias era quando o filme projetado era velho e muito remendado e por esse motivo a imagem saia do enquadramento correto, geralmente encobrindo o letreiro com a tradução do texto do filme. Sendo que esta atualização foi executada pelo técnico João Caputo, que era um funcionário antigo do Cine Ópera, tendo começado como Operador e que chegou a ser um tipo de curinga. Durante uma boa temporada foi o gerente do Cine Guarani, uma ocasião, era um domingo, havia 2 sessões de matinê e 1 sessão noturna, começou um problema no som no meio da 1ª sessão da matinê, e foi se intensificando. O que ocorria era que o som do projetor 1 saia recortado, consegui diagnosticar que o defeito estava entre a unidade leitora e o pré-amplificador, pois invertendo o sinal nos amplificadores, o som continuava saindo recortado, poderia ser um defeito na unidade leitora ou no pré-amplificador, poderia ter invertido as válvulas excitadoras dos pré-amplificadores, que teria matado a charada, mas por inexperiência não ousei efetuar a troca.
Chamado o João, ele chegou antes do inicio da sessão das 20:00 horas, ele só perguntou em qual dos projetores era o problema, foi direto na dita cuja válvula, tirou do soquete e jogou no chão com força, voou cacos de vidro para tudo quanto era lado, pediu a caixa de válvulas sobressalentes, pegou uma 12AX7 novinha e encaixou no soquete e pediu para que a sessão começasse com aquele projetor e desceu para bater papo. Iniciada a sessão, com o som perfeito de sempre. Os anos de experiência, nessa hora fez a diferença!
Estava no ponto final do ônibus, na Praça Rui Barbosa, lá pelas 12:30min horas, voltando para casa após uma manhã em sala de aula. Quando parou em frente ao ponto um Chevrolet 1937 preto, quatro portas. E o motorista fez sinal para mim. Vamos, estou indo para o Portão, era Ismail Macedo, um dos sócios proprietários do Cine Guarani. Sentei no banco da frente, e mais três pessoas sentaram no banco de traz, o Ismail que eu conhecia, sempre de terno e gravata e era de cumprimentar só mexendo a cabeça, sempre com a cara fechada, mas era só tipo. Quando conversava descontraído era outra pessoa. No meio da conversa perguntou para mim se o Sauro era meu tio. Respondi que era tio e padrinho, aí eu perguntei de onde ele conhecia o Sauro, e ele contou das sessões de cinema que eram realizadas na casa de minha avó, ele lembrava de vários tios e tias inclusive de minha mãe. Era um dos amigos de infância que não perdia as matinês do Sauro. Mundo pequeno, não?
Ocasionalmente vinham cópias de filmes com mal estado de conservação o que obrigava aos operadores efetuarem uma revisão minuciosa. E que consistia em bobinar e rebobinar todas as partes do filme, para isso, ficava-se com a mão direita manivelando e com os dedos da mão esquerda sentindo o estado físico dos orifícios laterais, do filme. Caso os mesmos apresentassem falhas, parava a manivela, retirava-se o pedaço do filme estragado, fazia-se uma emenda caprichada e dava continuidade ao rê-bobinado. Chegando ao final do rolo, fazia a inversão dos rolos e rê-enrolava. O operador Ivan Taborda é que geralmente fazia essas revisões, no período da manhã. Ele vinha de bicicleta, e trajando invariavelmente bombachas e um chapéu de feltro preto típico de gaúcho. Era bem gozado, um gaúcho dando uma panca e  o pingo era uma bicicleta.
O domingo em que Cauby Peixoto veio cantar no Cine Guarani! Com lotação esgotada, Cauby foi recepcionado pelas fãs que ofereceram diversos buquês de rosas. Cantou cerca de vinte canções sendo a maioria do seu repertório de sucessos com música em play-back.
Com o advento da televisão em Curitiba as empresas exibidoras começaram a sentir a ausência dos frequentadores, uma das saídas foi a realização de concursos, o primeiro foi marcante, a juventude frequentadora retornou em peso as sessões, só se falava no concurso, que consistia para cada ingresso um cupom onde constavam três nomes de filme de sucesso e que ainda não tinha sido apresentado, e que em uma data predeterminada seriam sorteados sete cupons com a resposta correta e que dariam direito a um ingresso permanente com uma validade de 12 meses. Sendo que na sala de espera foi montado um grande cartaz triplo com fotos dos três filmes, e embaixo ficavam as três grandes latas redondas própria para transporte de filmes, devidamente lacradas. Ninguém conseguiu explicar o motivo dos lacres. Eu desconfiava que as latas estivessem sem os filmes, mas sim com algo pesado para dar a impressão de que os filmes lá estivessem. Os meus amigos achavam que eu sabia qual o era o filme que seria exibido, mas estavam enganados.
Comecei a frequentar o cinema antes da hora do inicio da seção, ainda era um adolescente,
Fiz primeiramente amizade com o Rubens, o gerente, após com o Jipe, não com a intenção de ingressar gratuitamente no cinema, mas sim conhecer toda a maquinaria em detalhes. Quando não estava na escola ou em casa estudando, lá estava eu no cinema. Rubens gostava de pintar as suas placas com a propaganda dos filmes, na sala de espera, pois como as placas eram afixadas acima das portas de vidro e eram de grande tamanho, ficava mais fácil pintar ali mesmo. Para tanto pegavas os dois sofás pequenos servindo de cavalete e apoiava neles as placas e com uma ripinha redonda tendo em ambos os extremos uma pequena bola de pano enrolada. Para não sujar de tinta o papel ou tecido quando apoiava o pincel para pintar as letras, diretamente sem auxilio de um mísero lápis. As tintas ele mesmo as preparava, em um pequeno fogareiro elétrico derretia a cola de ossos, misturava com os corantes em pó e o resultado final era excelente. O mesmo acontecia com a cola de goma que era utilizada, ali vim a conhecer o segredo de se misturar soda cáustica a cola. Certa vez ele confeccionou um grande cartaz em madeira compensada, mesmo assim muito pesado. Nele pintou uns vinte nomes de filmes com os nomes dos os astros que atuavam, e as datas de exibição, e que foi afixado em um lote de terreno nas proximidades do cinema, e que contou com a minha colaboração para carregar e ajudar a pregar dito cujo imenso cartaz.
Certa manhã de verão; bem cedo, estando em férias escolares, resolvi ir ao Cine Guarani, só para passar o tempo. Lá chegando me deparei com um senhor querendo empurrar uma grande moto escadaria acima. Porém a moto era muito pesada e eram muitos os degraus, ele só não conseguiria empurra-la. Aí fui ao seu auxilio, chegando lá em cima começamos a conversar, papo vai papo vem, fiquei sabendo que ele era o Waldomiro Jensen, para os amigos, Miro o Técnico Eletrônico do Cinema e que ali estava para efetuar a troca das lanternas de projeção. Troca da tela, para tela de Cinemascope, acrescentar seis caixas de som laterais, três de cada lado da sala. Adaptação de lentes anamórficas para possibilitar passar filmes em Panavision ou Cinemascope. Quando chegaram os irmãos Francisco (Chico), Augusto e Ivan Taborda, que era operador de projeção, sendo Chico o novo gerente e Augusto era o novo operador de projeção, ambos eram de longa data meus amigos, pois ambos tinham sido guardas-civis do cinema. Naqueles tempos em todos os cinemas e teatros de Curitiba e acredito que em todo o Brasil, quem mantinha a ordem e os bons costumes era a corporação da Guarda Civil. Para ajudarem o Miro nas modificações, abriram o cinema, e entraram. Eu para não me intrometer fiquei meio de lado, quando o Miro me chamou, vem João, vem ver as novas lanternas, não estava acreditando, tanta sorte de uma só vez, conhecer as novas lanternas de projeção e participar de todas aquelas mudanças. Com este fato iniciou-se uma grande amizade, que durou até o desaparecimento de Miro.
Subimos, lá chegando o Miro que gostava de contar tudo o que ia fazer, como se eu fosse seu velho amigo e também técnico. Mostrou os projetores e começou a abrir as duas grandes caixas de madeira que continham as lanternas novinhas em folha, recém chegadas de São Paulo, eu também participei desta abertura, após a desmontagem das caixas, ficaram a mostra no chão da grande cabine as duas novas lanternas, eram enormes comparando com as que estavam em uso. Eram de cor cinza claro, a marca eu não tenho muita certeza, mas acho que era Triumph, certeza eu tenho que elas eram fabricadas em São Paulo. Possuíam avanço automático de eletrodos e eram dotados de um espelho parabólico com diâmetro de 16 polegadas e duas tampas que se abriam de ambos os lados das lanternas, em sentido para cima. Se bem que isto não era mais modernização, pois naquela época já, estavam em uso às lanternas com lâmpadas de xenon, que proporcionavam muito mais luminosidade e com uma grande economia de energia elétrica. As pequenas lanternas antigas em uso para ficarem com os seus eixos alinhados com a objetiva. Usavam grandes calços, que eram 2 pedaços de viga de pinho medindo aproximadamente 5x5 polegadas, pintadas de preto. Que eram colocadas transversalmente no chassi dos projetores, com as novas lanternas, não mais foram utilizados os grandes calços. Após a fixação das lanternas, o que deu trabalho foi a adaptação das chaminés. Após, foram feitos 2 furos com diâmetro de 12 milímetros um em cima e outro em baixo dos pés que eram de ferro fundido dos projetores que serviu para a passagem dos cabos blindados dos novos pré-amplificadores que foram construídos pelo próprio técnico Miro.
A Tela ficava atrás de uma grande cortina verde, que era operada manualmente. Atrás da tela que era esticada numa grande estrutura de madeira munida de rodas, ficava uma enorme caixa de som com uma altura de cerca de 1,60 m, com alto falantes do tipo, woofer, mid-range e cornetas. Do mesmo lado em que estava o exaustor, ficava a oficina de pintura dos cartazes e uma pequena marcenaria com uma serra tico-tico elétrica que era utilizada para confecção das letras em madeira compensada. Que eram utilizadas na grande marquise, com o nome do filme do dia. O nome do filme era trocado 3 vezes por semana, pois terça e quarta-feira era um filme, quinta, sexta-feira e sábado era outro, domingo e segunda-feira outro. Esta tarefa também era executada pelo Jipe.
O teto e as laterais acima das paredes da sala de projeção eram recobertas por placas retangulares que mediam em média 0,50 m por 1,20m e com uma espessura de cerca de 15 mm. Construídas com longos fios de cepilho de madeiras prensadas e cimento e pintadas que eram presas em uma estrutura leve metálica que por sua vez era afixada em uma grande estrutura de madeira. Que era recoberta por grandes telhas de cimento amianto. As placas serviam de isolamento térmico e acústico ao mesmo tempo. E nas paredes laterais de ambos os lados do salão, havia em espaços regulares 4 colunas recobertas de madeira compensada, envernizadas. Posteriormente nessas colunas foram fixadas as 8 caixas acústicas que reproduziam um pseudo Surround, sendo muito raramente utilizadas, sendo só usadas em passagens de sons só de música quando o filme exibido era um musical, eram ligados e desligados manualmente diretamente no amplificador que estava em uso no momento.
Subindo as escadarias que ia a sala de projeção que era dividida com um quarto e um banheiro no lado oposto a escadaria, era o dormitório do Jipe até ele se casar.
No final da escada havia um grande quadro elétrico em granito, com muitas chaves elétricas do tipo faca e medidores de tensão e corrente. Na parede da frente havia um grande rack elétrico com divisões e próximo afixado ao piso cimentado o gerador de corrente continua, que alimentava os 2 projetores a arco voltaico. Nessa mesma parede havia uma mesa longa com uma prateleira debaixo, onde eram guardadas as latas com as partes dos filmes e também tinha 2 grandes caixas de madeira do tipo de caixa de tomate abarrotadas com grandes tocos de eletrodos que pareciam imprestáveis.
E nessa mesa ficava o rebobinador de filmes e o aparelho de cortar, emendar e prensar filmes, quando o mesmo arrebentava, ou para emendar as partes quando era filme de rolos de pequeno diâmetro. No lado oposto ficavam os 2 projetores sendo que eles já tinham sido restaurados ou depenados. Pois as lanternas já não eram as originais, eram muito pequenas pelo tamanho do chassi de ferro fundido, e os espelhos parabólicos com um diâmetro muito pequeno, pareciam ser lanternas para projetores de 16 ou 24 mm. E os mecanismos de aproximação dos eletrodos completamente manuais, o que obrigava aos operadores ficarem permanentemente avançando os eletrodos senão a projeção era prejudicada, escurecendo a medida que eles queimavam, se afastavam e quando isso acontecia à plateia gritava furiosamente. E consumiam eletrodos com uma voracidade inacreditável, sendo que pelo sistema utilizado de fixação dos mesmos, eram trocados quando ainda estavam pouco além da metade de seu comprimento. Também as unidades leitoras para a captação do som do filme, não eram mais as originais, estando em uso às foto células da marca Westrex americana e as pré-amplificadoras eram RCA também americana.
Originalmente os projetores de procedência alemã; eram da marca ERNEMANN ZEISS IKON com lentes ZEISS, provavelmente do modelo: VII com sistema de captação do som TOBIS KLANGFILM fabricados a partir do ano de 1934 do século XX. Pois só a partir deste ano é que foram construídos pela empresa alemã projetores sonoros. Precisos mecanicamente, e com técnica ótica acurada.
Laqueados na cor negra, e as partes internas que se abriam eram na cor creme. Com uma grande chaminé cada; que ligava o projetor ao teto da sala As 4 janelas sendo 2 espias para os operadores e 2 por onde passava a luz projetada eram protegidas por vidros de cristal afixados diretos na argamassa, em caso de quebra, tinha que se quebrar o revestimento de argamassa para se efetuar a troca. Entre o segundo projetor e a parede do dormitório Havia uma janela de 0,50m x 0,50m que se abria para a sala de projeção. Ao lado antes da janela ficava o rack dos 2 amplificadores de som valvulados marca RCA americanos. No outro lado antes do projetor 1 tinha um pequeno rack com toca-discos e controles de som para a música ambiente, para o antes e o após seções. Sendo que o projeto técnico tanto elétrico como eletrônico foram de autoria do Senhor Waldomiro Jensen, para os amigos, Miro um grande técnico eletrônico, que me ensinou muito sobre eletrônica. Infelizmente faleceu muito prematuramente vitimado por um infeliz acidente. Em um final de semana foi com a família e outros parentes fazer um picnic, foram em um caminhão, sendo que ao regressarem caiu de cabeça para baixo da carroceria do caminhão ao tentar descer. Sofrendo fraturas no crânio.
Creio que era de um filho arquiteto do Prof. Carneiro foi construído em um terreno alugado, sendo que o proprietário residia em uma casa ao lado e nos fundos do cinema havia outra pequena casa, onde morava o Rubens, não lembro mais o seu sobrenome com sua família. Catarinense de Blumenau  e ótimo letrista, inigualável. Pode existir igual, melhor duvido. Suas faixas em pano ou papel ou mesmo em Outdoor ficaram marcadas na memória. Era também o bilheteiro e gerente. Quando veio para o Cine Guarani também trouxe o seu auxiliar, também catarinense que tinha o apelido certo para o homem certo: Jipe, não consigo recordar o seu nome inteiro; lembro que seu primeiro nome era Otacílio, mas ele não gostava que o chamassem por Otacílio, só por Jipe. Ele era muito parecido fisicamente com o Grande Otelo. Rubens e Jipe já trabalhavam em cinema lá em Blumenau, Santa Catarina.
Sempre com chapéu de feltro na cabeça e a sua famosa bicicleta que era munida de uma carreta com carroceria de aço e com duas pequenas rodas também raiadas, com um engate por meio de porca e parafuso. Onde invariavelmente três a quatro vezes por semana levava e trazia as latas contendo os filmes, jornais, trailer e sabe-se lá o que mais. Do Portão ao Centro a distancia é de cerca de sete quilômetros. Também era o Porteiro.
Voltando a arquitetura do Cine Guarani, era construído em um terreno bem elevado em referencia a Avenida República Argentina. O acesso era através de uma escadaria com cerca de doze degraus e que se estendia em quase a totalidade da frente do cinema, com um pequeno muro em cada canto tudo em pedra retangular de cor cinza, como também o piso do recuo obrigatório. Aí vinha a construção propriamente dita. Mais um degrau em toda a extensão do imóvel. Degrau revestido em cimento colorido com pedrinhas brancas imitando mármore com quatro grandes portas de aço, sendo duas para o bar, que tinha uma entrada em madeira com vitrinas nos dois lados e porta dupla de vai e vem ao estilo “Saloon”. As outras duas portas davam para um hall onde ficava a bilheteria e os cartazes que eram quatro quadros revestidos de feltro verde medindo aproximadamente 1,20m de largura por 1,50m de altura.. Onde eram pregadas com tachinhas as fotografias sempre em branco e preto e ao lado um cartaz impresso colorido. Que eram impressos nos paises de origem das empresas Cinematográficas, bastante tempo depois o governo brasileiro criou uma lei que obrigava as Cias. estrangeiras imprimirem aqui no Brasil estes cartazes, em cima era colocada às palavras com letras recortadas em compensado e pintadas de preto: HOJE, BREVE ou AMANHÃ.
O hall que era separado da sala de espera por 4 portas de madeira envidraçadas. Com cerca de 2,50 metros de altura, acima era fechada por venezianas que chegavam ao teto, sendo de cerca de 5,00 m a altura do pé direito, o teto era laje e que servia de piso para cabine de projeção.
Na sala de espera no lado esquerdo havia 2 portas, uma em cada canto, a primeira era à entrada da bilheteria e que dava acesso a cabine de projeção por uma alta e larga escada em cimento queimado com vermelhão, sem corrimão. A outra porta dava acesso ao toalete feminino. Entre as duas portas, tinha um sofá de três lugares com um cinzeiro de pedestal de cada lado e com uma poltrona individual de cada lado, ao centro uma mesinha. Isto era toda a sala de espera. Não esquecendo do quadro futurístico pendurado na parede acima do sofá.
No lado direito havia uma porta que era à entrada do toalete masculino, e duas meias portas interligadas, que eram chaveadas por ambos os lado, e quando abertas eram a bombonière, quando não era hora de funcionamento do cinema, estas meias portas permaneciam fechadas. Porém o bar ficava aberto com acesso pela entrada frontal.
Após as portas dos banheiros havia uma escada com cerca de três degraus no comprimento da sala, onde tinha duas grandes portas venezianas de correr. Com uma grande cortina verde também de correr, para vedar a entrada de luz. Após vinha o salão do cinema, sendo que em ambas as laterais havia uma porta dupla também em veneziana e cortinas que dava acesso a corredores laterais de ambos os lados que davam acesso à parte frontal do cinema, eram as portas de emergência. A sala era com piso de tacos com 720 poltronas da marca Cimo sem estofamento. O piso era em declive até cerca de10 metro do palco, aí vinha um aclive até o palco, sendo que no canto esquerdo havia uma porta com cortina que dava acesso ao palco. No canto direito havia um enorme exaustor, muito ruidoso quando ligado. Quem se sentava nesse aclive ao término da sessão saia com o pescoço doendo.
A sétima arte (como se falava na minha juventude) sempre me exerceu um grande fascínio. O cinema sempre esteve presente em minha família. Os meus pais eram assíduos frequentadores e eu desde muito pequeno já ia aos cinemas com eles, isso antes de existir a censura para menores de 14 anos nas sessões noturnas Meus avós maternos incentivavam os filhos para irem aos cinemas, teatros, etc. Disso resultaram que o filho Sauro, que era o que tinha espírito inventivo principiou com as suas sessões de cinema em casa, adquiriu sabe-se lá aonde um projetor de 35 mm, mudo. Conseguiu vários pedaços, jornais, partes e mesmo pequenos filmes completos, todos mudos, e de todas as procedências, predominando Alemanha e França aos quais emendava pedaços de filmes de celuloide transparente onde ele escrevia o texto que ele imaginava que os personagens estivessem dialogando. Disso nasceu um cinema no sótão ou no rancho, o sótão era uma mistura de dormitório, sala de estudos, atelier de artes e sabe-se lá o que mais. O rancho era um galpão de madeira construído rente ao chão sem assoalho e com telhado alto ao estilo europeu, suas paredes eram acinzentadas por falta de caiação e que servia como oficina e depósito para o meu avô. Aos domingos todos os amigos e conhecidos de meu tio lá estavam para a clássica sessão de cinema. E também projetava outras bitolas de fitas, não sei qual artimanha ele fazia no projetor para mudar as bitolas dos filmes. Sendo que na última reforma desse sótão. Realizada por meu pai, tio Homero, vovô Davide e eu como ajudante, descobrimos um monte desses filmes guardados em esconderijo secreto do sótão, esconderijos é que não faltavam apesar da reforma ser total. Ainda hoje tenho cisma que ficaram alguns super secretos. Sendo que meu avô desejou ficar com os filmes, não imaginando o que ele queria com os ditos cujos, aceitamos, também não adiantava argumentar a casa era dele, ele mandava e pronto. O que me deu uma “baita” raiva foi o destino final dos ditos filmes. Passado uns dias, lá chegando para continuar a reforma, vi no tanque de lavar roupa todos os filmes mergulhados na água que estava misturada sabe-se lá com o que. E tinha a finalidade de liberar a prata depositada nos filmes de celuloide. Os tempos eram difíceis e meu avô sempre “durango”, pois lá, quem controlava as finanças era minha avó com mãos de ferro. Entretanto meu avô, já tinha percebido que daria um trabalho danado para obter a tal prata daqueles filmes. Foi nessa hora que tive a brilhante ideia, e pedi a ele alguns rolos que ainda não tinham sido destruídos, desses deu para aproveitar dois pequenos rolos um em 35 mm e outro em 28 mm que ainda hoje guardo em lugar bastante seguro, pois podem se autodestruir pegando fogo espontaneamente. E nesse contexto quero inserir a figura de um dos personagens desta história: Ismail Macedo que era um dos espectadores assíduos do cinema do Sáuro, que nunca deixou de cobrar ingresso. Como o próprio Ismail narrou, muitos anos depois. Hoje, sei que Ismail após concluir o curso de Contabilidade, foi trabalhar como Contador para o Prof. David Carneiro. Que era o proprietário do Cine Ópera, e outros cinemas importantes da cidade, entre eles o Cine Guarani localizado à Avenida República Argentina com a Rua Engenheiro Niepce da Silva no bairro do Portão. O cinema de minha juventude, com um projeto arquitetônico bastante simples.